O Efeito Psicológico das Letras e seus Sons

Você já se perguntou por que alguns nomes de marcas soam mais elegantes, modernos ou confiáveis do que outros? A resposta pode estar nos sons das letras que compõem esses nomes. Essa é a proposta da fonossemia (ou fonestesia), um conceito que teve importantes contribuições do psicólogo Wolfgang Köhler (1929), um campo de estudo que investiga como certos sons evocam emoções, sensações e significados simbólicos, mesmo sem um significado direto.

O Efeito Psicológico das Letras e seus Sons na Criação de Marcas

Esse fenômeno tem sido explorado em diversas áreas, como naming, psicolinguística, branding, design sonoro e marketing sensorial. Embora muito desenvolvido em língua inglesa, seus princípios se aplicam à língua portuguesa e influenciam diretamente a forma como percebemos os nomes das marcas.

O Significado Sonoro das Vogais

As vogais têm um papel fundamental na sonoridade dos nomes. Cada uma delas transmite uma sensação específica, muitas vezes associada a valores emocionais e características simbólicas:

  • A — Força, emoção, expressividade
  • E — Leveza, feminilidade, sofisticação
  • I — Precisão, agilidade, inteligência
  • O — Profundidade, autoridade, tradição
  • U — Mistério, exclusividade, envolvimento

Essas associações não são meras coincidências: estudos em psicolinguística e testes com consumidores mostram que certos sons evocam padrões mentais e emocionais semelhantes entre pessoas de diferentes culturas.

Por exemplo, o som do “I” é considerado “pontiagudo” e é comumente associado a coisas pequenas, rápidas e modernas. Já o som do “O” tende a ser percebido como mais profundo, estável e forte.

As Consoantes Também Falam

Não são apenas as vogais que influenciam. Algumas consoantes também têm uma carga simbólica importante:

  • L — leveza, suavidade
  • M — maciez, acolhimento
  • R — energia, movimento
  • S — fluidez, sofisticação
  • T — firmeza, precisão
  • X / Z — ousadia, modernidade

Essas características são especialmente úteis ao criar nomes de marcas que desejam transmitir uma sensação específica, como luxo, velocidade, delicadeza ou autoridade.

Aplicando na Criação de Marcas

Compreender o efeito psicológico dos sons é uma ferramenta poderosa no naming. Ao escolher um nome, não consideramos apenas o significado ou a escrita, mas também como ele soa quando falado.

Veja alguns exemplos de como isso é usado na prática:

Exemplos com Vogais

Com a letra “A” – Abertura, força, emoção

  • Efeito: expressivo, emocional, forte

  • Percepção: poder, presença, expansividade

  • Usado em marcas: abertas, confiantes, populares

  • Exemplos: Natura, Amaro, Amazon, Ambev

Com a letra “E” – Leveza, suavidade, equilíbrio

  • Efeito: feminino, estável, refinado

  • Percepção: serenidade, harmonia, modernidade

  • Usado em marcas: elegantes, femininas, acessíveis

  • Exemplos: Eudora, Elle, Elegance

Mais exemplos com a letra “E: Marcas com “E” para eletroeletrônicos, para loja de roupas femininas.

Com a Letra “I” – Precisão, agilidade, inovação

  • Efeito: fino, pontiagudo, rápido

  • Percepção: intelectual, tecnológico, jovem

  • Usado em marcas: digitais, smart, minimalistas

  • Exemplos: Intel, Ipiranga, Nike

Com a Letra “O” – Profundidade, autoridade, estabilidade

  • Efeito: grave, poderoso, confiável

  • Percepção: força, tradição, solidez

  • Usado em marcas: bancos, instituições, grandes marcas

  • Exemplos: *Globo, Oracle, Motorola, Oi

Mesmo que o nome “Globo”não comece com a lera “O”, o som predominante (tanto tônico quanto de encerramento) é o /o/, uma vogal posterior fechada, que ressoa de forma grave, redonda e estável.

Com a Letra “U” – Mistério, exclusividade, profundidade

  • Efeito: fechado, sonoro, envolvente

  • Percepção: luxo, seriedade, profundidade emocional

  • Usado em marcas: premium, místicas, exclusivas

  • Exemplos: *Nubank, Uber, Unilever

*Mesmo que “Nubank” não comece com a letra “U”, o fonema predominante na abertura do nome é /u/, e é isso que influencia a percepção da marca.

Exemplos com Algumas Consoantes Importantes

Com a Letra “L” – leveza, fluidez, feminilidade

  • Efeito: leveza, fluidez
  • Percepção: feminino, suave, elegante
  • Usado em marcas: L’Oréal, Lux, Lança Perfume

Com a LetraM” – suavidade, acolhimento, emoção

  • Efeito: maciez, acolhimento
  • Percepção: conforto, empatia
  • Usado em marcas: Melissa, Moça, Mimo

Com a Letra “N” – neutralidade, estabilidade

  • Efeito: estabilidade, neutralidade

  • Percepção: equilíbrio, segurança, continuidade

  • Usado em marcas: Netflix

Com a LetraR” – energia, ação, vibração

  • Efeito: energia, vibração
  • Percepção: força, dinamismo, movimento
  • Usado em marcas: Renner, Red Bull, Riachuelo

Com a LetraS” – sofisticação, fluidez, pluralidade

  • Efeito: sofisticação, fluidez
  • Percepção: moderno, múltiplo, elegante
  • Usado em marcas: Samsung, Sephora, Schutz

Com a LetraT” – firmeza, tecnologia, estrutura

  • Efeito: firmeza, estrutura
  • Percepção: tecnológico, racional
  • Usado em marcas: TikTok, TNT, Tesla

Com a LetraX / Z” – ousadia, modernidade, inovação

  • Efeito: ousadia, impacto, inovação
  • Percepção: futurista, disruptivo
  • Usado em marcas: Xbox, Zara, Zattini

 

Conclusão

O som de uma palavra é tão importante quanto seu significado. Em naming, compreender os efeitos psicológicos dos sons é essencial para criar nomes memoráveis, alinhados com o posicionamento da marca e com o que ela deseja comunicar.

Ao escolher um nome, ou criar uma marca do zero, vale observar não apenas o que ele significa, mas como ele soa, como ele vibra na mente e na boca de quem fala. Afinal, um bom nome é aquele que é lembrado com facilidade, pronunciado com prazer e que representa bem o que você oferece.

Referências Bibliográficas

  • Köhler, W. (1929). Gestalt Psychology. Liveright.
  • Nájera, C. (2016). The Sound of Branding. Gower Publishing.
  • Hinton, L., Nichols, J., & Ohala, J. J. (1994). Sound Symbolism. Cambridge University Press.
  • Lowrey, T. M., & Shrum, L. J. (2007). Phonetic symbolism and brand name preference. Journal of Consumer Research, 34(3), 406-414.
  • Silva, D. R. da (2013). Fonéstica, fonologia e suas implicações no design de nomes de marcas. Revista Letras, 89, 139-158.

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